DIRIGENTES DA AAPEC SÃO PRESOS POR ESTELIONATO

11/08/2016 00:01

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Por G1:

09/08/2016 10h39 - Atualizado em 09/08/2016 10h57

Oito pessoas são presas por desvio de dinheiro de instituto do câncer em MG

Operação conjunta apura enriquecimento dos administradores da AAPEC.
Recursos eram desviados para manter 'luxo' dos administradores, diz MPE.

 

Do G1 Vales de Minas Gerais

76 militares e civis  se reuniram no Quartel do 14º Batalhão da PM em Ipatinga e outras unidades das cidades envolvidas (Foto: Divulgação / Ministério Público)76 militares e civis se reuniram no Quartel do 14º Batalhão da PM em Ipatinga e outras unidades das cidades envolvidas (Foto: Ministério Público/Divulgação)

Oito pessoas foram presas durante a 'Operação Carcinoma', deflagrada na manhã desta terça-feira (9), em Ipatinga (MG). A ação, que começou há seis meses, investiga um esquema criminoso instalado na administração da AAPEC (Associação de Assistência às Pessoas com Câncer) e, segundo o Ministério Público Estadual (MPE), aponta enriquecimento ilícito dos administradores da instituição mediante apropriação de recursos públicos e de recursos arrecadados por meio de doações. As prisões foram realizadas em Ipatinga, Coronel Fabriciano, Santana do Paraíso e Viçosa.

Além da AAPEC de Ipatinga, também estão sendo investigadas 17 empresas ligadas à Associação, nas cidades de Coronel Fabriciano, Santana do Paraíso, Belo Horizonte, Governador Valadares e Viçosa, onde estão sendo cumpridos 20 mandados de busca e apreensão.

A operação foi desencadeada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), formado pelo Ministério Público e as Polícias Militar e Civil.

Esquema criminoso
De acordo com o MPE, um núcleo criminoso operava o esquema de dentro da administração da AAPEC, sendo que os recursos públicos e privados captados por doações eram desviados em favor dos criminosos.

Também segundo o órgão, a AAPEC possui filiais em outras cidades e contava com uma empresa de telemarketing, a serviço dos infratores, "sendo de grande monta a totalidade da arrecadação das doações', diz o MPE.

"Tais doações do público, ao invés de realmente terem sido empregadas em favor de portadores de câncer, eram quase que por completo abocanhadas pela organização criminosa, inclusive, com esquema de lavagem de dinheiro, em um verdadeiro estelionato coletivo e crimes contra a economia popular", diz a investigação.

A AAPEC também possuía um convênio com o município de Ipatinga, com recebimento de recursos públicos, contudo, além dos desvios relatados, a instituição deixava de prestar relevantes serviços aos portadores de câncer, como deveria fazer diante do convênio firmado com o município.

O Gaeco pediu que fosse nomeado um administrador judicial para assumir a gestão da associação, em razão do afastamento dos gestores que usavam da associação para finalidades ilícitas, notadamente voltada para o auto enriquecimento.

Foram apreendidas carros de luxo e motos esportivas (Foto: Divulgação / Ministério Público)Foram apreendidas carros de luxo e motos
esportivas (Foto: Ministério Público/Divulgação)

Luxo
O MP apurou que além do enriquecimento e a vida de ostentação levada pelo casal que administra a AAPEC, como carros de luxo e motos esportivas, eles ainda residiam em um imóvel de propriedade da instituição em um bairro nobre da cidade de Ipatinga, sendo que a própria Associação dependia de um imóvel alugado para funcionar.

Também segundo a investigação, a Associação ainda é responsável por arcar com as despesas como alimentação, construções, viagens, festas, 'fitness' e outros luxos e despesas pessoais dos investigados, valendo-se da solidariedade e sensibilidade da população, para levar a cabo o engodo, mantendo em erro os doadores.

"Muitos doadores das cidades de Ipatinga, Governador Valadares, Viçosa e Sete lagoas acreditavam que contribuíam para auxílio a uma pessoa carente, acometida de câncer, quando na verdade estavam aumentando a riqueza da grei criminosa", diz o MPE.

G1 procurou os responsáveis pela AAPEC em Ipatinga, mas ninguém foi encontrado para comentar o assunto.

 

Por Diário do Aço:

Gaeco desmonta esquema criminoso que desviava dinheiro da AAPEC

Interventor judicial assumiu comando para que entidade continue a funcionar e prestar assistência em andamento para pacientes de câncer


Wellington Fred + álbum pessoal


Todo o corpo de dirigentes foi preso, entre eles filho, mãe e a nora
A Operação Carcinoma, desencadeada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), composto pelas Polícias Civil, Militar e Ministério Público Estadual, desarticulou nesta terça-feira (9) um esquema criminoso para desvio de dinheiro da Associação de Apoio à Pessoa com Câncer (AAPEC), que funcionava em Ipatinga e mais cinco cidades mineiras. Ao fim, os investigados podem responder por crimes como estelionato, apropriação indébita e formação e quadrilha, entre outros.

Assim que o dia amanheceu o grupo de 72 policiais civis e militares cumpriu oito mandados de prisão temporária e 22 mandados de busca e apreensão, apreenderam R$ 38 mil, carros de luxo e motocicletas esportivas. O trabalho contou, inclusive, com o trabalho de peritos contábeis do Instituto de Criminalística da PC em Belo Horizonte. A operação atingiu unidades da associação, além de Ipatinga, em Governador Valadares, Coronel Fabriciano, Santana do Paraíso, Belo Horizonte e Viçosa, esta última a cidade onde a entidade está localizada como sede, e não Ipatinga, como se acreditava.

Em Ipatinga foram presos a fundadora da AAPEC, Zilma Ferreira da Silva, 58, que no papel é a presidente, o filho dela, Eduardo Silva de Souza, 33 anos, que de fato dirigia a entidade e a mulher dele, Dafny Sá Domingos, 28 anos, que também era administradora. O Gaeco estima que entre 30% e 40% de cerca de R$ 1 milhão mensais eram desviados da AAPEC. 

O promotor de Justiça, Bruno Schiavo, que acompanhou a operação, informou que foi nomeado um interventor judicial para assumir o comando da entidade. "A intenção é que a entidade continue a prestar o seu serviço, agora, exclusivamente às pessoas com câncer, que é a sua finalidade", concluiu. O número de pessoas atendidas, valores exatos da arrecadação, ainda estão em levantamento, explicou o promotor. 

Os acusados ainda não tinham, até a tarde de terça-feira, os advogados devidamente constituídos, mas informaram que somente seus defensores irão se pronunciar sobre o caso. 
Wellington Fred


Comando da PM, PC e Ministério Público detalha operação


Convênios

A principal fonte de arrecadação de dinheiro da AAPEC eram doações solicitadas pela equipe de telemarketing da associação. Tanto, que os R$ 38 mil apreendidos ontem foram recolhidos com motoboys que chegavam com o resultado da coleta junto aos doadores. 

Entre os anos de 2014 e 2015 a AAPEC era irrigada também com dinheiro público. Nestes anos vigorou um convênio com a Prefeitura de Ipatinga, no valor de R$ 107 mil anuais. Este ano, em função das dificuldades financeiras, o convênio não foi renovado.

“Nos dois anos em que vigorou o convênio, toda a prestação de contas está em dia. A prefeitura vai acompanhar o processo, face às denúncias apresentadas pelo Gaeco. Vamos encaminhar toda a documentação referente aos convênios e prestar todas as informações necessárias à investigação”, informou a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Ipatinga.

Sensibilidade

O comandante da 12ª Região da Polícia Militar, tenente-coronel Edvanio Carneiro, enfatizou o resultado da união de forças entre as polícias Militar, Civil e Ministério Público, para combater o crime organizado. O comandante também afirmou que as pessoas que contribuíram com a entidade não devem se sentir culpadas. 

"A finalidade da entidade era ajudar as pessoas e famílias de pacientes com câncer. Isso toca a todos nós. O crime, o erro foi das pessoas que se apossaram dessa entidade para desviar os seus recursos em benefício próprio. Muitas entidades prestam serviços de forma séria a quem realmente precisa", enfatizou. 

Desvio 

Recurso desviado bancava vida de ostentação dos dirigentes, afirma o Gaeco


Conforme as investigações do Gaeco, a receita da associação aumentava progressivamente, mas, o número de pessoas atendidas só diminuía. A entidade assistencial não pode ter lucro, não pode ter dinheiro em caixa. Foi então que os dirigentes decidiram, conforme a investigação, montar um esquema para desviar o dinheiro. Acredita-se que o esquema “sangrava” cerca de 60% do dinheiro arrecadado, por meio de empresas que eles mesmos montaram para prestar serviços. 

Uma das empresas era a Global Telemarketing, da qual Dafny Sá Domingos se apresenta como proprietária, em sua página no Facebook. A Global funcionava dentro da sede da AAPEC, na rua Machado de Assis. Também foi criada a Clínica Odontológica Oralis na avenida Selim José de Sales, no bairro Canaã, igualmente alvo da operação de busca e apreensão ontem. Em uma nova fase da operação, a partir desta terça-feira, o Gaeco investiga 17 empresas associadas ou que se relacionavam com prestação de serviços e fornecimento para a entidade. 

O delegado Gilmaro Alves, que atuou nas investigações explicou que o estatuto da associação, estabelece que nenhum familiar dos dirigentes poderia assumir cargo na entidade. Entretanto, os levantamentos indicam que a presidente Zilma Ferreira, embora assinasse pela entidade, tinha o filho e a nora no comando de todas as ações. “Ela nem sequer morava em Ipatinga, estava em Belo Horizonte”, observou o delegado. 

As primeiras suspeitas de irregularidades foram levadas e denunciadas por ex-funcionários, que estranharam o número de assistidos, não condizente com o volume de dinheiro arrecadado. 

Para o Gaeco, as investigações que duraram seis meses mostraram que o grupo criminoso montou o esquema com o intuito de enriquecimento ilícito, mediante apropriação de recursos públicos e de dinheiro arrecadado com doações.

“As doações do público, em vez de terem sido empregadas em favor de portadores de câncer, eram quase que por completo abocanhadas pela organização criminosa, inclusive, com esquema de lavagem de
dinheiro, em um verdadeiro estelionato coletivo e crimes contra a economia popular”, divulgou o Gaeco.
O nome da operação, Carcinoma, tem a origem em um tumor maligno, com alta taxa de incidência.

GAECO desmonta esquema de desvio de dinheiro na AAPEC


Dinheiro desviado em entidade bancava ostentação 

Além do enriquecimento e a vida de ostentação, com carros de luxo e motos esportivas, apropriados pelo casal administrador de fato da AAPEC, eles ainda residiam em um imóvel de propriedade da associação, na rua Aleijadinho, no bairro Cidade Nobre, enquanto a própria entidade dependia de um imóvel alugado para funcionar, na rua Machado de Assis. Somente nessa casa foram apreendidos um Corolla, um Fusion e uma motocicleta Kawasaki/Ninja ZX14R. 
As investigações do Gaeco apontam que o dinheiro da entidade era usado pelos diretores para arcar com as despesas com alimentação, construções, viagens, festas e academias, além de despesas pessoais dos investigados.

Doadores de recursos manifestam indignação 
Wellington Fred


Neuza Marta, que sempre doava para a AAPEC quer saber do resultado da operação


Moradora do bairro Cidade Nobre, a enfermeira Neuza Marta viu a operação na sede da AAPEC, na manhã desta terça-feira e foi indagar sobre o que ocorria no local. Ficou indignada ao saber da operação policial. "Fazemos doações semanalmente para essa entidade. Estou chocada com isso tudo. Vamos aguardar as investigações para fazer a conclusão desse caso. Em se confirmando todas essas acusações, vamos ficar muito decepcionados com isso. Muitas entidades sérias, compromissadas, podem ser prejudicadas com esse escândalo", concluiu. 

A preocupação e indignação de Neuza Marta é a mesma manifestada por centenas de pessoas que repercutiram o escândalo a partir das notícias publicadas nesta terça-feira. "Queremos saber quem são essas pessoas. Esperamos que as autoridades tenham provas suficientes para revelar quem são os responsáveis", pediu um leitor. Outro destacou a importância de as pessoas, antes de fazer qualquer tipo de doação, avaliar primeiro a quem vai doar. "Todo dia as pessoas pedem ajuda para entidade, mas que dia nós fomos lá conhecer de perto?", indagou.

 

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